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Aparência e preconceito


Eu nasci nesse corpo, mas me alegro quando esse corpo se torna um trampolim para eu experimentar o infinito. Quanto de infinito cabe em você? 


(Viviane Mosé)

 
É correta a frase do poetinha, "as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental?". Talvez, para Vinícius de Moraes, o poetinha, boêmio que se inspirou na beleza das mulheres para compor suas belas músicas e seus lindos poemas...
No entanto, estamos vivendo um momento em que a beleza, a boa forma, o bem vestir-se, ou seja, a aparência virou qualidade essencial nas pessoas. E as pessoas se tornaram preconceituosas com aqueles que estão fora do padrão de beleza idealizado. Ser gordo, atualmente, passou a ser julgado como um traço de imoralidade, pois para muitos, uma pessoa gorda é preguiçosa, não tem muita força de vontade, e assim, cria-se um perigoso preconceito, entre tantos que existem. 
Julgamentos e preconceitos são muito graves, pois eles excluem. Como os que existem contra os homossexuais, os religiosos, os ateus, os negros, os que têm tatuagens, enfim, qualquer um que, em determinado momento, alguma situação os fez diferentes sem o serem. E não paramos para refletir se há algum sentido nisso. Vamos escolhendo somente o que é mais aceitável para nós, conforme o nosso limitado ponto de vista.
Então, para amenizar ou justificar certa hipocrisia usa-se o politicamente correto, mudando a nomenclatura, ou usando de eufemismos. Dizer "negro", atualmente, é ofensivo, afrodescendente o correto. Mas por quê? Por que quem é gordo passou a "ter sobrepeso"? E o velho passou a ser idoso, e depois passou a pertencer à "melhor idade". Melhor idade? Acho que isso torna o preconceito ainda maior. Questiono muito isso.
A palavra em si é neutra. O que dá valor e peso a ela é a carga de emoção boa ou ruim que colocamos ao pronunciá-la. Mudemos, portanto, os nossos conceitos e pensamentos.
Os espelhos parecem deformados por mentes que se deformaram. Mentes de pessoas que não têm conseguido ser felizes sem sucumbir ao ideal de beleza que a sociedade, o trabalho, o consumismo e nosso mundo contemporâneo e louco impõem. Quantas mulheres - e homens até -, buscam adequar-se, recorrendo a diversas cirurgias, clínicas e tratamentos estéticos? Quantos sacrifícios se fazem, e quanto dinheiro se gasta para isso?
Mas como fugir disso? Como aceitar a realidade? Minha e do outro? Para onde caminhamos com esses julgamentos e preconceitos? Talvez o homem ainda precise sofrer, sentir que há um vazio nisso tudo, e fazer uma reflexão sobre quais valores realmente são importantes, e que estão faltando em nossas relações.
Por que damos tanta importância ao que é externo? Esquecemos o que as pessoas podem nos oferecer independente da posição que ocupam, do carro que possuem, ou da grife que vestem. Isso é só aparência e não essência.
Não critico quem busca conforto e bem-estar, isso é um direito e deve ser respeitado. Mas muitas pessoas andam deprimidas, porque não querem ser como são. Andam estressadas, porque precisam de uma rotina sacrificante em academias, fazendo duras dietas sem tempo para viver. E se esquecem do convívio das pessoas que lhes dão afeto, amizade, carinho e companherismo. Além disso, esquecem-se de que muito podemos aprender com quem é, pensa e faz algo diferente de nós, e ao mesmo tempo é como nós.
A vida passa, e o tempo deixa marcas que, por mais que as evitemos, nada podemos contra elas. Por que não passarmos pelo tempo com alegria, permitindo-nos aceitar o que esse mesmo tempo nos ensina? Com essa bagagem podemos buscar conhecimento e crescimento, expressar nossos sentimentos, criar. E, assim, experimentarmos novas aquisições, tocando as pessoas pelo que temos de bom e belo em nosso ser. Por que no fim, o que precisamos mesmo é nos relacionar, receber e doar afeto, carinho e atenção. E isso vem do coração, são valores da alma.
O corpo é somente veículo que, um dia, enfim perece, porque tal é a lei da natureza. Como diz a filósofa e poeta Viviane Mosé"do lado de fora é onde deve estar nosso lado de dentro".
Sejamos felizes hoje com o que somos e o que temos. Ao nosso redor veremos um mundo de possibilidades reais, sem preconceitos nem julgamentos.
Viver bem é isso.

Rita Ribeiro

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